domingo, 13 de dezembro de 2015

Uma Perspectiva Cristã Sobre a Homossexualidade - William Lane Craig

Neste artigo ele desenvolve uma perspectiva cristã sobre a delicada, e contemporânea, questão da homossexualidade. Originalmente publicado como: "A Christian Perspective on Homosexuality". Texto disponível na íntegra em: http://www.reasonablefaith.org/a-christian-perspective-on-homosexuality.

A tradução foi extraída da obra Apologética para questões difíceis da vida, publicada em 2010 por Edições Vida Nova, e utilizada com autorização.

Uma das questões mais difíceis e importantes que a igreja enfrenta hoje é a questão da homossexualidade como um estilo de vida alternativo. A igreja não pode se esquivar dessa questão. Eventos como o assassinato brutal de Matthew Shepherd, o estudante homossexual, no Wyoming, ou a recente torrente de escândalos envol­vendo sacerdotes pedófilos, que têm sacudido a Igreja Católica, são sufi­cientes para trazer essa questão para o centro dos debates atuais.

Os cristãos que rejeitam a legitimidade do estilo de vida homosse­xual são geralmente taxados de homofóbicos, intolerantes, e até mesmo de odiosos. Por causa disso, a questão do homossexualismo tem provocado uma grande intimidação, ao ponto de algumas igrejas terem aprovado o estilo de vida homossexual e até mesmo aceitado aqueles que o praticam para serem seus ministros.

Não pense que isso tem acontecido apenas em igrejas liberais. Uma organização homossexual, chamada Evangelicals Concerned [Evangélicos Preocupados], é formada por um grupo constituído de pessoas que, para todos os efeitos, são nascidas de novo, creem na Bíblia, mas que também são homossexuais praticantes. Eles alegam que a Bíblia não proíbe a prática homossexual ou que seus mandamentos não são válidos para hoje, uma vez que são apenas reflexo da cultura em que foram escritos. Essas pessoas, apesar de serem ortodoxas com relação a Jesus e a qualquer outra área de ensino, acreditam que é correto ser um homossexual praticante. Lembro-me de ouvir um erudito do Novo Testamento numa conferência profissional relatar a história de sua fala em um dos encontros da Evangelicals Concerned: “As pessoas estavam realmente preocupadas a respeito do que você ia falar”, disse o anfitrião após o encontro. “Por quê?” — ele perguntou surpreso — “Vocês sabem que não sou homofóbico!”. Mas o anfitrião lhe tranquilizou: “Imagina! As pessoas não estavam preocupadas com isso!”. E acrescentou: “Na verdade, elas estavam com medo de que você fosse defender o método histórico-crítico”.

Assim, quem somos nós para dizer que esses cristãos aparentemente sinceros estão errados?

Ora, essa é uma pergunta muito boa. Quem somos nós para dizer que eles estão errados? Tal questionamento suscita uma pergunta ainda mais profunda, que precisa ser respondida antes de tudo: o certo e o errado realmente existem? Antes que você possa determinar o que está certo e o que está errado, você tem de saber se o certo e o errado realmente existem.

Bem, qual é a base para dizer que o certo e o errado existem, e que há realmente uma diferença entre esses dois? Tradicionalmente, a resposta tem sido que a base dos valores morais está em Deus. Deus é, por natureza, perfeitamente santo e bom. Ele é justo, amoroso, pa­ciente, misericordioso, generoso — tudo que é bom vem dele e reflete seu caráter. Ora, a natureza perfeitamente boa de Deus chega até nós em seus mandamentos que se tornam nosso dever moral: por exemplo, “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, alma e força”, “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”, “Não matarás, não furtarás, não cometerás adultério”. Essas coisas são certas ou erradas com base nos mandamentos de Deus, e os mandamentos de Deus não são arbitrários, mas fluem necessariamente de sua perfeita natureza.

Esse é o entendimento cristão de certo e errado. Há realmente um criador, Deus, que fez o mundo e nos permitiu conhecê-lo. Ele realmente tem ordenado certas coisas. E, de fato, estamos moral­mente obrigados a fazer certas coisas (e não fazer outras). A moralidade não é apenas um produto de sua mente. Ela é real. Quando falhamos em guardar os mandamentos de Deus, realmente nos tornamos, do ponto de vista moral, culpados perante ele e carentes de seu perdão. A questão não está apenas no fato de nos sentirmos culpados; nós realmente somos culpados, a despeito de como nos sentimos. Se tenho uma consciência insensível, uma consciência entorpecida pelo pecado, posso não me sentir culpado; mas, se transgredi a lei de Deus, sou culpado, a despeito de como me sinto.

Assim, por exemplo, se os nazistas tivessem vencido a Segunda Guerra Mundial e tivessem tido sucesso em sua lavagem cerebral ou no extermínio de todos que discordassem deles, de forma que todo o mundo pensasse que o Holocausto tinha sido bom, tal atitude ainda assim teria sido errada, porque Deus diz que é errada, a despeito da opinião humana. A moralidade está baseada em Deus, e assim o certo e o errado têm existência real e não são afetados por opiniões humanas.

Tenho enfatizado esse ponto porque ele é muito estranho ao pensamento de uma boa parte das pessoas em nossa sociedade atual. Hoje muitas pessoas encaram o certo e o errado não como uma questão de fato, mas de gosto. Não há uma questão objetiva, por exemplo, em se achar que o brócolis é gostoso. Ele é gostoso para algumas pessoas, mas ruim para outras. Ele pode ser gostoso para você, mas não para mim! As pessoas pensam que o mesmo acontece com os valores morais. Alguma coisa pode ser errada para você, mas certa para mim. Não há nada objetivamente certo ou errado. É apenas uma questão de gosto.

Ora, se Deus não existir, então creio que essas pessoas estão absolu­tamente corretas. Na ausência de Deus, tudo se torna relativo. Assim, o certo e o errado se tornam valores relativos para diferentes culturas e sociedades. Sem Deus, quem pode dizer que os valores de uma cultura são melhores do que os da outra? Quem é que pode dizer quem está certo e quem está errado? De onde vêm o certo e o errado? Richard Taylor, renomado filósofo americano — que, a propósito, não é cristão —, defende esse argumento com veemência. Observe cuidadosamente o que ele diz:

A ideia de obrigação moral está clara o suficiente, desde que subenten­dida a referência a um legislador que esteja acima dos demais. Em outras palavras, nossas obrigações morais podem ser entendidas como obrigações impostas por Deus. Mas o que acontece se esse legislador que está acima dos seres humanos não for mais levado em conta? O conceito de uma obrigação moral ainda faz sentido? [1]

Segundo Taylor, a resposta é não. Em suas palavras: “O conceito de obrigação moral é ininteligível quando dissociado da ideia de Deus. As palavras permanecem, mas o significado delas se perde.” [2] E continua dizendo:

Apesar de a era moderna repudiar em maior ou menor grau a ideia de um legislador divino, ela tem tentado manter as ideias do que é certo e errado moralmente, sem perceber que, ao colocar Deus de lado, ela também aboliu o caráter do que significa o certo e o errado. Assim, mesmo pessoas instruídas, algumas vezes, declaram que coisas como a guerra, o aborto ou a violação de certos direitos humanos são moralmente erradas, e imaginam ter dito algo de verdadeiro e significativo. Entretanto, não é preciso que se diga a pessoas instruídas que questões como essas nunca foram respondidas fora do campo da religião. [3]

Você consegue compreender o que quer dizer até mesmo um filósofo não cristão como esse? Se não existir Deus, se não existir um legislador divino, então não existe lei moral. Se não existe lei moral, então o certo e o errado não têm existência real. O certo e o errado são apenas costumes e convenções humanos que variam de sociedade para sociedade. Ainda que todos esses costumes e convenções sejam os mesmos, continuam sendo apenas invenções humanas.

Assim, se Deus não existir, o certo e o errado também não existem. Vale qualquer coisa, inclusive a homossexualidade. Logo, um dos melhores modos de defender a legitimidade do estilo de vida homossexual é se tornar um ateu. Mas o problema é que muitos defen­sores da homossexualidade não querem se tornar ateus. Na verdade, querem afirmar que o certo e o errado existem. Assim, você os ouve fazendo julgamentos morais o tempo todo. Por exemplo: “É errado discriminar os homossexuais”. Esses julgamentos morais não pretendem ser justos em relação a uma dada cultura ou à sociedade. Eles condenariam uma sociedade como a sociedade nazista alemã que lançou homossexuais nos campos de concentração, com judeus e outros marginalizados. Quando o estado do Colorado aprovou uma emenda proibindo direitos especiais para homossexuais, Barbara Streisand promoveu um boicote ao estado, dizendo que o clima moral no estado tinha se tornado “inaceitável”.

No entanto, temos visto que esses juízos de valor não podem ser feitos de modo significativo, a menos que Deus exista. Se Deus não existe, vale qualquer coisa, incluindo a discriminação e a perseguição a homossexuais. Todavia, isso não para por aqui: assassinato, estupro, tortura, abuso infantil — nenhuma dessas coisas seria errada, porque, sem Deus, o certo e o errado não existem. Tudo é permitido.

Assim, se queremos ser capazes de fazer julgamentos morais a respeito do que é certo e do que é errado, temos de afirmar que Deus existe. Contudo, a mesma questão com que iniciamos — “Quem é você para dizer que a homossexualidade é errada?” — pode ser devolvida aos ativistas homossexuais: “Quem são vocês para dizer que a homossexualidade é certa?”. Se Deus existir, então não podemos ignorar o que ele tem a dizer a respeito do assunto. A resposta correta à pergunta “Quem é você para dizer...?” é replicar: “Eu? Não sou ninguém! É Deus quem determina o que é certo e o que é errado. Estou apenas interessado em aprender o que ele diz e obedecer-lhe”.

Deixe-me recapitular o que vimos até aqui. A questão da legitimidade do estilo de vida homossexual está em saber o que Deus tem a dizer a respeito dele. Ora, se não há Deus, então não há certo ou errado, e não faz qualquer diferença o estilo de vida que você escolhe. Por essa perspectiva, aquele que persegue os homossexuais teria a mesma razão daquele que defende a homossexualidade. Contudo, se Deus existir, não mais podemos viver com base em nossas próprias opiniões. Temos que descobrir o que ele pensa sobre a questão.

Assim, como você descobre o que Deus pensa? O cristão diz: olhando na Bíblia. E a Bíblia nos diz que Deus proíbe a prática homosse­xual. Portanto, os homossexuais estão errados.

O raciocínio é basicamente este:

(1) Temos obrigação de fazer a vontade de Deus.
(2) A vontade de Deus está expressa na Bíblia.
(3) A Bíblia condena a prática homossexual.
(4) Logo, a prática homossexual é contrária à vontade de Deus, ou seja, é errada.

Ora, se alguém rejeita esse raciocínio, então tem de negar que (2) a vontade de Deus está expressa na Bíblia ou, ainda, que (3) a Bíblia condena a prática homossexual.

Primeiro, olhemos para o ponto (3): A Bíblia, de fato, condena a prática homossexual? Agora observe como faço a pergunta. Não pergunto, “A Bíblia condena a tendência homossexual?”, mas sim “A Bíblia condena a prática homossexual?”. Essa é uma distinção impor­tante. A tendência homossexual é um estado ou uma orientação; uma pessoa que tem uma orientação homossexual pode jamais vir a expressá-la na prática. Em contrapartida, uma pessoa pode praticar atos homossexuais mesmo tendo uma orientação heterossexual. O que a Bíblia condena é a prática, e não a orientação homossexual em si. Essa ideia de alguém ser homossexual por orientação é característica da psicologia moderna e pode ter sido desconhecida das pessoas no mundo antigo. O que elas conheciam eram as práticas sexuais, e é isso o que a Bíblia condena.

Ora, isso tem inúmeras implicações. No final das contas, pouco importa o debate para saber se a tendência homossexual é algo com o qual o ser humano nasce ou é fruto do ambiente em que a pessoa foi criada. O mais importante não é saber como você adquiriu sua orientação sexual, mas o que você faz com ela. O que alguns defensores da homossexualidade mais querem provar é que seus genes, e não sua educação, determinam se você é homossexual — porque, assim, a prática homossexual seria vista como normal e correta. Entretanto, essa conclusão não procede. O simples fato de você ter uma predisposição genética para alguma prática não significa que tal prática seja moralmente correta. A título de exemplo, alguns pesquisadores suspeitam que pode haver um gene que predispõe algumas pessoas ao alcoo­lismo. Isso significa que é correto para alguém, com tal predisposição, sair e beber o quanto quiser e se tornar um alcoólatra? Obviamente não! Se há alguma coisa que podemos fazer é alertar essa pessoa a se abster do álcool para evitar que isso aconteça. Ora, a verdade nua e crua é que nós não entendemos plenamente os papéis da hereditariedade e do ambiente na constituição da homossexualidade. Mas isso realmente não importa. Ainda que a homossexualidade fosse de caráter completamente genético, esse fato isolado não a torna diferente em nada de um defeito de nascimento, como a fenda palatina ou a epilepsia. Ou seja, isso não significa que seja normal e que não devamos tentar corrigi-la.

De qualquer modo, tanto faz se a tendência homossexual resulta da genética ou da educação, o fato é que as pessoas geralmente não optam por ser homossexuais. Muitos homossexuais relatam o quanto é angustiante descobrir-se com esses desejos e como é difícil lutar contra eles. Eles certamente lhe diriam que nunca escolheriam ser homossexuais. Veja, a Bíblia não condena uma pessoa que tem essa tendência homossexual. O que ela condena é a prática homossexual. É plenamente possível alguém lutar contra sua tendência homossexual e ser um nascido de novo, um cristão cheio do Espírito.

Exatamente como um alcoólatra que, deixando de beber, chega a uma reunião dos Alcoólicos Anônimos e diz “Sou um alcoólatra”, alguém que possua uma tendência homossexual, e que não a tem colocado em prática, mantendo-se casto, deve ser capaz de dizer numa reunião de oração: “Sou alguém que luta contra a tendência homossexual, e que, pela graça de Deus e pelo poder do Espírito Santo, tem vivido castamente por Cristo”. Espero que tenhamos a coragem e o amor para dar boas-vindas a essa pessoa como um irmão ou uma irmã em Cristo.

Assim, uma vez mais, a questão é: a Bíblia condena a prática homossexual? Lógico, eu já disse que ela condena. A Bíblia é tão voltada para a realidade! Pode ser que você não esperasse que um assunto como a prática homossexual fosse tratado na Bíblia, mas, na verdade, há seis lugares na Bíblia — três no Antigo Testamento e três no Novo Testamento — em que essa questão é tratada — isso sem mencionar todas as passagens que tratam do casamento e da sexualidade e que têm implicações para essa questão. Em todas as seis passagens, as práticas homossexuais são inequivocamente condenadas.

Levítico 18.22 diz que é uma abominação para um homem deitar-se com outro homem como se fosse uma mulher. Em Levítico 20.13, a pena de morte é prescrita em Israel para tal ato, assim como nos casos de adultério, incesto e bestialidade. Ora, algumas vezes os defensores do homossexualismo equiparam essas proibições às proibições contra animais imundos, como os porcos, relatadas no Antigo Testamento. Como os cristãos de hoje não obedecem a todas as leis cerimoniais do Antigo Testamento, assim, dizem eles, não temos de obedecer às proibições referentes às práticas homossexuais. Mas o problema com esse argumento é que o Novo Testamento reafirma a validade das proibições do Antigo Testamento com respeito à prática homossexual, como veremos a seguir. Isso mostra que as proibições não eram apenas parte das leis cerimoniais do Antigo Testamento, as quais foram deixadas de lado, mas eram parte da lei moral perene de Deus. A prática homossexual é, aos olhos de Deus, um pecado sério. Outra passagem em que as práticas homossexuais são mencionadas no Antigo Testamento está em Gênesis 19, um terrível relato sobre a tentativa de estupro dos visitantes de Ló por parte dos homens de Sodoma, da qual a nossa palavra sodomia se deriva. Deus destruiu a cidade de Sodoma por causa da impiedade deles.

Como se isso não bastasse, o Novo Testamento também proíbe a prática homossexual. Em 1Coríntios 6.9-10, Paulo escreve: “Não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem os que se submetem a práticas homossexuais, nem os que as procuram, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem caluniadores, nem os que cometem fraudes herdarão o reino de Deus”. (Como eu disse, a Bíblia é muito voltada para a realidade!). A segunda vez em que a palavra “homossexuais” aparece listada é em 1Timóteo 1.10, junto a imorais, sequestradores, mentirosos, assassinos. Tais práticas são “contrárias” à sã doutrina do evangelho. O tratamento mais longo dispensado à prática homossexual aparece em Romanos 1.24-28. Ali Paulo fala a respeito de como as pessoas se afastaram do Deus Criador e começaram a adorar deuses falsos que eles próprios fabricaram. Paulo diz:

É por isso que Deus os entregou à impureza sexual, ao desejo ardente de seus corações, para desonrarem seus corpos entre si; pois substituíram a verdade de Deus pela mentira e adoraram e serviram à criatura em lugar do Criador, que é bendito eternamente. Amém. Por isso, Deus os entregou a paixões desonrosas. Porque até as suas mulheres substituíram as relações sexuais naturais pelo que é contrário à natureza. Os homens, da mesma maneira, abandonando as relações naturais com a mulher, arderam em desejo sensual uns pelos outros, homem com homem, cometendo indecência e recebendo em si mesmos a devida recompensa do seu erro.  Assim, por haver rejeitado o conhecimento de Deus, foram entregues pelo próprio Deus a uma mentalidade condenável para fazerem coisas que não convêm.

Os acadêmicos liberais têm feito acrobacias para tentar esquivar-se do sentido claro desses versículos. Alguns têm dito que Paulo está somente condenando a prática pagã de homens que exploram sexualmente garotos. Mas tal interpretação é obviamente errônea, visto que o que Paulo condena, nos versículos 24 e 27, são os atos homossexuais praticados por “homem com homem”. No verso 26, ele fala também de lesbianismo. Outros acadêmicos têm dito que Paulo está somente condenando heterossexuais que se envolvem em práticas homossexuais, mas não condenando os homossexuais que as praticam. Mas essa inter­pretação é fantasiosa e anacrônica. Já dissemos que foi somente nos tempos modernos que a ideia de orientação homossexual ou hete­rossexual se desenvolveu. O que Paulo está condenando são as práticas homossexuais, a despeito da orientação. Em função do pano de fundo do Antigo Testamento para essa passagem, assim como do que Paulo diz em 1Coríntios 6.9-10 e 1Timóteo 1.10, fica claro que Paulo está aqui proibindo todos esses atos. Ele vê essa prática como evidência de uma mente corrompida que se afastou de Deus e foi abandonada por ele à degeneração moral.

Assim, a Bíblia é direta e clara quando trata a respeito da prática homossexual. Esta é contrária ao desígnio de Deus e é pecado. Mesmo se não houvesse essas passagens explícitas tratando das práticas homosse­xuais, estas ainda seriam proibidas sob o mandamento “não adulterarás”. O plano de Deus para a atividade sexual humana restringe a prática ao casamento: qualquer atividade sexual fora da segurança do laço do casamento — seja pré-conjugal ou extraconjugal, seja heterossexual ou homossexual — é proibida. O sexo é designado por Deus para o casamento.

Alguém poderia dizer que, se Deus pretendesse que o sexo fosse exclusivo para o casamento, então era só deixar acontecer o casamento entre homossexuais e eles não estariam cometendo adultério! Mas essa sugestão entende de modo completamente errado a intenção de Deus para o casamento. A história da criação em Gênesis nos diz como Deus fez a mulher para ser uma companheira idônea para o homem, o seu perfeito complemento proporcionado por Deus. Então, o texto diz: “Portanto, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne” (Gn 2.24). Esse é o padrão de Deus para o casamento, e no Novo Testamento Paulo cita essa passagem, dizendo: “Esse mistério é grande, mas eu me refiro a Cristo e à igreja” (Ef 5.32). Paulo diz que a união entre o homem e sua esposa é um símbolo vivo da unidade de Cristo com seu povo, a igreja. Quando pensamos nisso, podemos ver que terrível sacrilégio e que zombaria do plano de Deus é a união homossexual. Esta é um ataque frontal à intenção de Deus para a humanidade desde o momento da criação.

O que foi dito, anteriormente, também mostra quão tolas são algumas ideias dos defensores do homossexualismo. Alguns deles dizem: “Jesus nunca condenou a prática homossexual, por que nós deveríamos condená-la?”. Jesus não mencionou especificamente muitas coisas que sabemos serem erradas, como a brutalidade e a tortura, mas isso não significa que ele as tenha aprovado. O que Jesus realmente faz é citar Gênesis para afirmar o padrão de Deus para o casamen­to, como a base de seu próprio ensino sobre o divórcio. Em Marcos 10.6-8, ele diz: “Mas desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso o homem deixará seu pai e sua mãe [e se unirá à sua mulher]; e os dois serão uma só carne. Assim, já não são mais dois, porém uma só carne.” O fato de dois homens se tornarem uma só carne numa relação homossexual seria uma violação da ordem criada e do plano de Deus. Ele criou homem e mulher, não dois homens ou duas mulheres, para serem indissoluvelmente unidos em casamento.

Recapitulando: a Bíblia, de forma clara e consistente, proíbe a prática homossexual. Assim, se a vontade de Deus está expressa na Bíblia, conclui-se que a prática homossexual é contrária à vontade de Deus.

Mas suponha que alguém negue o ponto (2) — que a vontade de Deus está expressa na Bíblia. E suponha que essa pessoa diga que as proibições contra a prática homossexual eram válidas para aquele tempo e para aquela cultura, mas não são mais válidas hoje. Afinal de contas, a maioria de nós provavelmente concordaria que certos mandamentos na Bíblia são relativos à cultura. Por exemplo, a Bíblia diz que as mulheres cristãs não deveriam usar joias, e os homens não deveriam usar cabelos longos. Porém, ainda que esses mandamentos tenham um núcleo válido que independe de conotação temporal — como, por exemplo, a ordem de vestir-se modestamente —, a maioria de nós diria que esse núcleo essencial pode ser expresso de diferentes formas em diferentes culturas. Do mesmo modo, algumas pessoas dizem que as proibições da Bíblia contra a prática homossexual não são mais válidas para o nosso tempo.

Contudo, creio que essa objeção apresenta um equívoco muito sério. Não há evidência de que os mandamentos de Paulo a respeito das práticas homossexuais sejam culturalmente relativos. Longe de ser um reflexo da cultura em que ele escreveu, os mandamentos de Paulo são completamente contraculturais! A prática homossexual era tão difundida nas antigas sociedades grega e romana como é hoje nos Estados Unidos, e, todavia, Paulo se posicionou contra a cultura e se opôs a ela. Mais importante ainda, temos visto que as proibições da Bíblia contra a prática homossexual não estão enraizadas na cultura, mas no padrão dado por Deus para o casamento estabelecido na criação. Não se pode negar que a proibição bíblica das relações homossexuais expressa a vontade de Deus, a menos que também se negue que o casamento, tal como é concebido pela Bíblia, expressa a vontade de Deus.

Bem, vamos supor que alguém diga: “Creio em Deus, mas não no Deus da Bíblia. Assim, não creio que a Bíblia expresse a vontade de Deus”. O que dizer a tal pessoa?

Parece-me que há dois modos de responder a essa questão. Em primeiro lugar, você poderia tentar mostrar que Deus se revelou na Bíblia. Essa é a tarefa da apologética cristã. Você poderia falar a respeito da evidência da ressurreição de Jesus ou das profecias cumpri­das. A Escritura realmente nos ordena, como cristãos, a ter tal defesa pronta a fim de que sejamos capazes de compartilhar o porquê de crermos do jeito que cremos com qualquer pessoa que nos pergunte (1Pe 3.15).

Em segundo lugar, você poderia tentar mostrar que a prática homossexual é errada, apelando para verdades morais geralmente aceitas — mesmo por pessoas que não creem na Bíblia. Apesar de essa abordagem ser mais difícil, creio que ela seja crucial uma vez que, como cristãos, devemos impactar nossa cultura contemporânea. Vivemos numa sociedade cada vez mais secularizada, cada vez mais pós-cristã. Não podemos simplesmente apelar para a Bíblia se queremos influen­ciar os legisladores ou as escolas públicas, ou outras instituições, porque a maioria do povo não mais crê na Bíblia. Precisamos dar razões que tenham um apelo mais amplo.

Por exemplo, creio que muitas pessoas concordariam com o princípio de que é errado envolver-se em uma prática autodestrutiva, porque tal prática destrói o ser humano que é valioso em si mesmo. Assim, penso que muitas pessoas diriam que é errado se tornar um alcoólatra ou um fumante inveterado. Diriam que é bom comer de forma correta e ser saudável. Além disso, acredito que quase todo mundo concordaria com o princípio de que é errado se envolver em práticas que prejudiquem outra pessoa. Por exemplo, restringimos o fumo a certas áreas ou o banimos de outras áreas, de forma que outras pessoas não tenham de inalar a fumaça, tornando-se fumantes passivos. Aprovamos leis contra a prática de beber ao dirigir um veículo, para evitar que pessoas inocentes sejam feridas. Quase todo mundo concorda que você não tem o direito de se envolver numa prática que seja nociva a outro ser humano.

Contudo, não é difícil mostrar que a prática homossexual é uma das práticas mais autodestrutivas e nocivas com a qual alguém pode se envolver. Mas esse fato não é amplamente divulgado. Hollywood e a mídia estão inflexivelmente inclinados a dar uma cara de felicidade às relações homossexuais, quando na realidade o homossexualismo é um estilo de vida autodestrutivo, ilegítimo e perigoso, exatamente como o alcoolismo e o tabagismo, que são viciantes e autodestrutivos. As estatísticas consistentes que vou compartilhar com vocês são fartamente documentadas pelo Dr. Thomas Schmidt em seu notável livro Straight and Narrow? [Hetero e medíocre?]. [4]

Para começar, há uma promiscuidade quase compulsiva associada à prática homossexual. Por exemplo, 75% dos homens homossexuais têm mais de 100 parceiros durante sua vida. Mais da metade desses parceiros são estranhos. Somente 8% de homens homossexuais e 7% das mulheres homossexuais têm tido relacionamentos que duram mais de três anos. Ninguém sabe a razão para essa promiscuidade estranha e obsessiva. Pode ser que os homossexuais estejam tentando satisfazer uma profunda necessidade psicológica por meio de relações sexuais, e não estejam conseguindo. A média dos homens homossexuais tem mais de 20 parceiros num ano. De acordo com o Dr. Schmidt:

...estatisticamente falando, é quase inexpressivo o número de homens homossexuais que experimentam algo parecido com fidelidade para a vida toda.

A promiscuidade entre os homens homossexuais não é um mero estereótipo, e não é meramente a experiência mais importante — é virtualmente a única experiência... a fidelidade para a vida toda é quase inexistente na experiência homossexual. [5]

Associado a essa promiscuidade compulsiva, difunde-se, entre os homossexuais, o uso de drogas como um meio de intensificar suas experiências sexuais. Em geral, os homossexuais representam um número três vezes maior do que a população que tem problemas com alcoolismo. Estudos mostram que 47% dos homossexuais masculinos têm em seu histórico de vida o uso excessivo de álcool, e 51%, uso excessivo de drogas. Há uma correlação direta entre o número de parceiros e a quantidade de drogas consumidas.

Além disso, de acordo com Schmidt, “há uma evidência avassaladora de que certos distúrbios mentais ocorrem com frequência muito mais elevada entre homossexuais.”[6] Por exemplo, 40% dos homens homossexuais apresentam um histórico de depressão profunda. Esse número ainda se torna mais impressionante quando comparado com o dado de que apenas 3% dos homens em geral enfrentam o problema de depressão profunda. De modo semelhante, 37% das mulheres homossexuais apresentam um histórico de depressão. Tal fato, por sua vez, resulta no aumento das taxas de suicídio. Os homossexuais são 3 vezes mais inclinados a praticar o suicídio do que a população em geral. De fato, homens homossexuais têm tentado o suicídio seis vezes mais do que homens heterossexuais, e mulheres homossexuais tentam o suicídio duas vezes mais do que mulheres heterossexuais. A depressão e o suicídio não são os únicos problemas. Estudos mostram que homens homossexuais têm mais tendência a ser pedófilos do que homens heterossexuais. Quaisquer que sejam as causas dessas desordens, permanece o fato de que qualquer um que tem ponderado sobre o estilo de vida homossexual não deve ter ilusões a respeito do problema em que está se metendo.

Outro dado não revelado diz respeito ao quanto a prática homosse­xual é fisicamente perigosa. Não vou descrever as espécies de atividades sexuais praticadas pelos homossexuais, mas apenas me permita dizer que os corpos, tanto masculino quanto o feminino, foram anatomicamente feitos para a relação sexual, o que não acontece com os corpos de dois homens. Em decorrência disso, a atividade homossexual — 80% da qual é praticada por homens — é muito destrutiva, resultando futuramente em problemas tais como dano à próstata, úlceras e fissuras, incontinência crônica e diarreia.

Além desses problemas físicos, as doenças sexualmente trans­missí­­veis são preponderantes entre a população homossexual. Por exemplo, 75% dos homens homossexuais são portadores de uma ou mais doenças sexualmente transmissíveis, e isso sem mencionar a aids. Elas incluem todas as espécies de infecções não virais como: gonorreia, sífilis, infecções bacterianas e parasitas. Também são bem comuns entre os homossexuais as infecções virais como a herpes e a hepatite B (que afligem 65% dos homens homossexuais), que são incuráveis, e como a hepatite A e as verrugas anais, que afligem 40% dos homens homossexuais. E isso sem mencionar a aids! Talvez a estatística mais estarrecedora e mais amedrontadora seja a da expectativa de vida: deixando de lado aqueles que morrem de aids, a expectativa de vida de um homem homossexual é de aproximadamente 45 anos, o que já é assustador, levando-se em consideração o fato de que a expectativa de vida de homens em geral é de 70 anos. Agora, se você incluir aqueles que morrem de aids, cuja estatística é de 30% dos homens homossexuais, a expectativa de vida cai para 39 anos.

Assim, creio que uma boa argumentação pode ser feita com base nos princípios morais geralmente aceitos de que a prática homossexual é errada. Ela é terrivelmente autodestrutiva e prejudicial. Assim, deixando de lado a proibição da Bíblia, há razões concretas e palpáveis para se considerar a atividade homossexual como errada.

Ora, tais informações têm implicações muito importantes para a política pública em relação à prática homossexual, visto que as leis e políticas públicas estão baseadas em tais princípios morais geralmente aceitos. Essa é a razão pela qual, por exemplo, nós temos leis regulando a venda de álcool de vários modos, leis proibindo o jogo ou regras restrin­gindo o fumo. Essas restrições sobre a liberdade individual são impostas para o bem comum. Do mesmo modo, em alguns estados americanos, como o estado da Geórgia, temos leis proibindo a sodomia. Embora tal lei seja indubitavelmente não compulsória, ela pode ser considerada justificável à luz dos riscos à saúde impostos por tal conduta.

Por outro lado, leis compulsórias que regulamentem a homosse­xualidade poderiam ser propostas, e os cristãos terão de pensar seria­mente a respeito delas em termos individuais. Por exemplo, um cristão pode não ver uma boa razão pela qual não se deva garantir igualdade de oportunidade na compra ou aluguel de uma casa por pessoas homossexuais. Contudo, é perfeitamente possível imaginar que um cristão se oponha a uma proposta de lei que garanta igualdade de oportunidades de emprego a homossexuais. Isso porque alguns empregos podem não ser adequados a homossexuais. Por exemplo, como você lidaria com a possibilidade de uma lésbica praticante ser a professora de educação física de sua filha na escola? Como você reagiria se o técnico de seu filho, que frequenta o mesmo lugar onde seu filho troca de roupa com outros meninos, fosse um homossexual? Particularmente, eu não apoiaria uma lei que pudesse levar as escolas públicas a contratar essas pessoas.

Além do mais, deveriam as aulas sobre saúde nas escolas públicas ensinar que o homossexualismo é um estilo de vida legítimo? Deveriam os alunos receber leituras como Heather Has Two Mommies? [Heather tem duas mamães?]. Deveriam as uniões homossexuais obter o mesmo reconhecimento legal dos casamentos heterossexuais? Deveria ser permitida a adoção de crianças por homossexuais? Em todos esses casos, alguém poderia argumentar a favor de certas restrições à liberdade dos homossexuais com base no bem comum e na saúde pública. Isso não é uma questão de impor valores pessoais de uns sobre outros, visto que se baseia nos mesmos princípios morais geralmente aceitos que são usados, por exemplo, para proibir o consumo de drogas ou aprovar leis sobre o uso de armas de fogo. Liberdade não significa licença para se envolver em ações que prejudiquem outras pessoas.

Em síntese, vimos, em primeiro lugar, que o certo e o errado têm existência real, uma vez que se baseiam em Deus. Assim, se queremos descobrir o que é certo ou errado, devemos olhar o que Deus diz sobre o assunto. Em segundo lugar, vimos que a Bíblia, de forma clara e consistente, proíbe as práticas homossexuais, exatamente como proíbe todos os atos sexuais fora do casamento. Em terceiro lugar, vimos que a proibição que a Bíblia faz de tal prática não pode ser descartada apenas levando em conta o tempo e a cultura em que ela foi escrita, pois está baseada no plano de Deus para o casamento entre homem e mulher. Além do mais, mesmo deixando a Bíblia de lado, há princípios morais geralmente aceitos que indicam que a prática homossexual é errada.

Ora, que aplicação prática cada um de nós pode fazer sobre tudo isso que refletimos?

Primeiro, se você é um homossexual ou tem essa tendência, mantenha-se casto. Você deve se abster de toda prática sexual. Sei que isso é difícil, mas na verdade o que Deus tem lhe pedido para fazer é exa­­tamente a mesma coisa que ele exige de todas as pessoas solteiras. Isso significa manter não somente a pureza do corpo, mas em especial da mente. Exatamente como os homens heterossexuais devem evitar a pornografia e a fantasia sexual, você também precisa manter limpo seu pensamento. Resista à tentação de racionalizar o pecado, dizendo: “Deus me fez assim”. Deus deixou muito claro que não quer que você faça as suas vontades, mas quer que você o honre, mantendo sua mente e seu corpo puros. Procure aconselhamento cristão profissional. Com tempo e esforço, pode ser que você venha a sentir prazer em relações heterossexuais normais. Há esperança!

Segundo, para os que são heterossexuais, é preciso lembrar mais uma vez que a tendência homossexual, em si, não é pecado. A maio­ria dos homossexuais não escolheu tal orientação e gostaria de mudá-la, se pudesse. Precisamos aceitar e acolher irmãos e irmãs que têm lutado contra essa tendência. Precisamos estender o amor e o perdão de Deus às pessoas que enfrentam esse problema. Palavras vulgares ou piadas a respeito de homossexuais nunca deveriam passar pelos lábios de um cristão. Se você sente prazer quando alguma aflição sobrevém a uma pessoa homossexual ou se sente ódio em seu coração em relação aos homossexuais, então você precisa refletir muito sobre as palavras de Jesus registradas em Mateus: “no dia do juízo, haverá menos rigor para a terra de Sodoma e Gomorra do que para aquela cidade” (ver Mt 10.15; 11.24).

Notas:

[1] Richard Taylor, Ethics, Faith, and Reason. Englewood Cliffs, N.J.: Prentice-Hall, 1985, p. 83.

[2] Ibid., p. 84.

[3] Ibid., p. 2-3.

[4] Thomas E. Schmidt, Straight and Narrow? Downer’s Grove, Ill.: InterVarsity Press, 1995, cap. 6.

[5] Ibid., p. 108.

[6] Ibid., p. 113.

Read more: http://www.reasonablefaith.org/portuguese/uma-perspectiva-cristae-sobre-a-homossexualidade#ixzz3uDLgmZDL




sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Como a apologética mudou minha vida!

   O ceticismo faz parte do meu DNA. Provavelmente foi por isso que eu acabei combinando o estudo de direito e de jornalismo para me tornar o editor jurídico do The Chicago Tribune — uma carreira na qual eu buscava incansavelmente fatos concretos e incontestáveis em minhas investigações. E, sem dúvida, foi por isso que, posteriormente, fui atraído a um exame completo das evidências - quer elas fossem positivas, quer negativas - como uma maneira de por à prova a legitimidade da fé cristã. Sendo um cínico espiritual, eu me tornei ateu no colegial. Para mim, o mero conceito de um Criador do universo que fosse amoroso, Todo-poderoso e onisciente era tão absurdo, à primeira vista, que nem mesmo merecia uma séria consideração. Eu acreditava que Deus não criara as pessoas, mas que as pessoas criaram Deus, pelo seu medo da morte e o seu desejo de viver para sempre em uma utopia que chamavam de céu.

   Eu me casei com uma agnóstica chamada Leslie. Vários anos depois, ela me trouxe a pior notícia que eu jamais pensei que fosse receber: ela tinha decidido se tornar uma seguidora de Jesus. O meu pensamento inicial foi que ela iria se transformar em uma santa esbanjadora irracional que desperdiçaria todo o seu tempo servindo os pobres em alguma cozinha de caridade. O divórcio era inevitável, imaginei.
   Então aconteceu algo assombroso. Durante os meses seguintes, eu comecei a observar algumas mudanças positivas no caráter dela, nos seus valores e na maneira como ela se relacionava comigo e com as crianças. A transformação era agradável e atraente. Assim, certo dia, quando ela me convidou para ir à igreja com ela, eu decidi concordar. O pastor proferiu uma palestra chamada "Cristianismo Básico", em que ele apresentou claramente os fundamentos da fé. Ele me arrancou do meu ateísmo naquele dia? Não, de maneira alguma. Ainda assim, eu concluí que, se o que ele estava dizendo era verdade, teria gigantescas consequências na minha vida.

   Foi quando eu decidi empregar a minha experiência de jornalista para investigar se havia alguma credibilidade no Cristianismo ou em qualquer outro sistema de fé. Eu decidi manter a mente aberta e seguir as evidências, para onde quer que elas apontassem - mesmo que isso me levasse a algumas conclusões desconfortáveis. De certa forma, eu estava diante da maior reportagem da minha carreira. A princípio, eu pensei que a minha investigação teria vida curta. Em minha opinião, ter "fé" significava que a pessoa acreditava em alguma coisa, ainda que soubesse, no fundo do seu coração, que isso não poderia ser verdade. Eu previ que rapidamente descobriria fatos que destruiriam o Cristianismo. Mas à medida que eu devorava livros escritos por ateus e cristãos, entrevistava cientistas e teólogos e estudava arqueologia, história antiga e religiões do mundo, eu fui ficando assombrado por descobrir que a fundação factual do Cristianismo era muito mais sólida do que eu acreditava.

   Grande parte da minha investigação concentrou-se na ciência, onde as descobertas mais recentes somente auxiliaram a consolidar as conclusões a que eu havia chegado nesses estudos. Por exemplo, hoje em dia os cosmólogos concordam que o universo e o tempo, própria-mente dito, passaram a existir em algum momento do passado finito. A lógica é inexorável: tudo o que começa a existir tem uma causa; o universo começou a existir, portanto o universo tem uma causa. Faz sentido que essa causa seja imaterial, atemporal, poderosa e inteligente. Além disso, os físicos descobriram ao longo dos últimos 50 anos, que muitas das leis e constantes do universo - tais como a força da gravidade e a constante cosmológica -, estão extremamente bem ajustadas a uma precisão incompreensível para que a vida exista. Essa exatidão é tão incrível que desafia a explicação do mero acaso.

   A existência de informações biológicas de DNA também aponta para um Criador. Cada uma das nossas células contém o conjunto exato de instruções para cada proteína que constitui os nossos corpos, todas elas expressas em um alfabeto químico de quatro letras. A natureza pode produzir padrões, mas onde quer que vejamos informações — seja em um livro ou em um programa de computador -, sabemos que por trás dela há uma inteligência. Além disso, os cientistas estão descobrindo complexas máquinas biológicas no nível celular que desafiam uma explicação darwiniana, e na verdade, são mais bem explicadas como a obra de um Projetista Inteligente.

   Para minha grande surpresa, fiquei convencido pelas evidências de que a ciência respalda a crença em um Criador que se parece, de maneira muito suspeita, ao Deus da Bíblia. Animado pelas minhas descobertas, voltei, então, minha atenção para a história. Descobri que Jesus, e somente Jesus, cumpriu as profecias messiânicas antigas, contra todas as probabilidades matemáticas. E concluí que o Novo Testamento está enraizado no depoimento de testemunhas oculares, e que ele passa nos testes que os historiadores usam rotineiramente para determinar a confiabilidade. Eu descobri que a Bíblia tem sido transmitida, ao longo dos séculos, com admirável fidelidade. No entanto, a questão primordial, para mim, era a ressurreição de Jesus. Qualquer pessoa pode declarar ser o Filho de Deus, como Jesus claramente o fez. A questão era se Jesus poderia respaldar essa afirmação, ressuscitando milagrosamente dos mortos.

   Um por um, os fatos constroem um caso convincente e irrefutável. A morte de Jesus pela crucificação é tão certa como qualquer outra coisa no mundo antigo. Os relatos da sua ressurreição são antigos demais para ser o produto de desenvolvimento de lendas. Até mesmo os inimigos de Jesus concordaram que o seu sepulcro estava vazio na manhã de Páscoa. E os encontros que as testemunhas oculares tiveram com o Jesus ressuscitado não podem ser descartados como meras alucinações ou pensamentos desejosos. Tudo isso representa apenas o começo do que descobri, nos quase dois anos da minha investigação. Sinceramente, fiquei completamente surpreso com a profundidade e a amplitude do caso em favor do Cristianismo. E como alguém treinado em jornalismo e direito, eu senti que não tinha escolha, senão reagir aos fatos.

   Assim, em 8 de novembro de 1981, dei um passo de fé na mesma direção que as evidências apontavam — o que é algo completamente racional de se fazer — e me tomei um seguidor de Jesus. E exatamente como tinha acontecido na experiência da minha esposa, com o passar do tempo o meu caráter, os meus valores e as minhas prioridades começaram a mudar - para melhor.

   Para mim, a apologética provou ser o momento inicial da minha vida e eternidade. Eu sou muito grato aos estudiosos que tão apaixonadamente e eficazmente defendem a verdade do Cristianismo — e hoje o objetivo da minha vida é fazer a minha parte, para ajudar outros a obter respostas às perguntas que os bloqueiam na sua jornada espiritual em direção a Cristo.

Lee Strobel



terça-feira, 17 de novembro de 2015

A ALTERNATIVA ESTARRECEDORA



   Os cristãos acreditam, portanto, que um poder ma­ligno se alçou, por enquanto, ao posto de Príncipe des­se Mundo. É inevitável que isso levante alguns proble­mas. Esse estado de coisas está de acordo com a vontade de Deus ou não? Se a resposta for "sim", você dirá que esse Deus é bastante esquisito. Se for "não", como pode acontecer algo que contrarie a vontade de um ser dotado de poder absoluto?

   Quem quer que tenha exercido um papel de auto­ridade, no entanto, sabe que algo pode estar de acordo com sua vontade por um lado e em desacordo por outro. É bastante sensato que a mãe diga a seus filhos: "Não vou mandá-los arrumar o quarto de brinquedos toda noite. Vocês têm de aprender a fazer isso sozinhos." Quan­do, certa noite, ela encontra o quarto todo bagunçado, com o urso de pelúcia, as canetinhas e o livro de gramá­tica espalhados pelo chão, isso contraria a sua vontade; afinal, ela preferia que os filhos fossem mais organiza­dos. Por outro lado, foi a sua vontade que permitiu que as crianças ficassem livres para deixar o quarto desorgani­zado. A mesma questão surge em qualquer regimento, sindicato ou escola. Quando algo é opcional, metade das pessoas não o cumprirá. Não era isso que queríamos, mas nossa vontade o tornou possível.

   Provavelmente, o mesmo acontece no universo. Deus criou coisas dotadas de livre-arbítrio: criaturas que po­dem fazer tanto o bem quanto o mal. Alguns pensam que podem conceber uma criatura que, mesmo desfru­tando da liberdade, não tivesse possibilidade de fazer o mal. Eu não consigo. Se uma coisa é livre para o bem, é livre também para o mal. E o que tornou possível a existência do mal foi o livre-arbítrio. Por que, então, Deus o concedeu? Porque o livre-arbítrio, apesar de possibi­litar a maldade, é também aquilo que torna possível qualquer tipo de amor, bondade e alegria. Um mundo feito de autômatos — criaturas que funcionassem como máquinas - não valeria a pena ser criado. A felicidade que Deus quis para suas criaturas mais elevadas é a fe­licidade de estar, de forma livre e voluntária, unidas a ele e aos demais seres num êxtase de amor e deleite ao qual os maiores arroubos de paixão terrena entre um ho­mem e uma mulher não se comparam. Por isso, essas criaturas têm de ser livres.

  É claro que Deus sabia o que poderia acontecer se a liberdade fosse usada de forma errada. Aparentemente, ele achou que valia a pena correr o risco. Talvez quei­ramos discordar dele. Existe, porém, um empecilho para se discordar de Deus. Ele é a fonte da qual vem toda a nossa faculdade de raciocínio: não podemos estar certos e ele, errado, assim como uma onda não pode mudar o sentido da maré. Quando discutimos com ele, esta­mos na verdade discutindo contra o próprio poder que nos tornou capazes de discutir: é como se cortássemos o galho no qual estamos sentados. Se Deus pensa que o estado de guerra no universo é um preço justo a pagar pelo livre-arbítrio - ou seja, pela criação de um mundo vivaz no qual as criaturas podem fazer tanto um grande bem quanto um grande mal, no qual acontecem coisas realmente importantes, em vez de um mundo de mario­netes que só se movem quando ele puxa as cordinhas -, devemos igualmente consentir que o preço é justo.

   Quando compreendemos a questão do livre-arbítrio, vemos o quanto é tolo perguntar o que alguém certa vez me perguntou: "Por que Deus criou um ser de ma­téria tão corrompida, condenando-o ao erro?" Quanto melhor for a matéria da qual for feita uma criatura -quanto mais ela for inteligente, forte e livre -, tanto me­lhor será ela quando tender para o certo, e tanto pior quando tender para o errado. Uma vaca não pode ser nem muito boa, nem muito má; um cachorro já pode ser um pouco melhor ou um pouco pior; uma criança pode ser ainda melhor ou pior; um homem comum, ainda melhor ou pior; um homem de gênio, melhor ou pior ainda; um espírito sobre-humano, melhor - ou pior — do que todos os demais.

   Como pôde o Poder das Trevas ter caído no erro? Para essa pergunta, sem dúvida, nós, seres humanos, não conseguimos formular uma resposta com absoluta cer­teza. Podemos, entretanto, oferecer um palpite razoável (e tradicionalmente aceito) baseado em nossas próprias experiências de erro. No momento em que possuímos um ego, temos a possibilidade de nos colocar em pri­meiro lugar - de querer ser o centro de tudo — de que­rer, na verdade, ser Deus. Esse foi o pecado de Satanás, e foi esse o pecado que ele ensinou à raça humana. Cer­tas pessoas julgam que a queda do homem teve algo a ver com o sexo, mas estão enganadas. (A história con­tada no Livro do Gênesis sugere, isto sim, que nossa na­tureza sexual foi corrompida após a queda, como uma conseqüência desta, e não uma causa.) O que Satanás colocou na cabeça dos nossos remotos ancestrais foi a idéia de que poderiam "ser como deuses" — poderiam bastar-se a si mesmos como se fossem seus próprios cria­dores; poderiam ser senhores de si mesmos e inventar um tipo de felicidade fora e à parte de Deus. Dessa ten­tativa, que não pode dar certo, vem quase tudo o que chamamos de história humana: o dinheiro, a miséria, a ambição, a guerra, a prostituição, as classes, os impé­rios, a escravidão - a longa e terrível história da tenta­tiva do homem de descobrir a felicidade em outra coisa que não Deus.

    A razão pela qual essa tentativa não pode ser bem-sucedida é a seguinte: Deus nos criou como um ho­mem inventa uma máquina. Um carro é feito para ser movido a gasolina. Deus concebeu a máquina humana para ser movida por ele mesmo. O próprio Deus é o com­bustível que nosso espírito deve queimar, ou o alimento do qual deve se alimentar. Não existe outro combustível, outro alimento. Esse é o motivo pelo qual não podemos pedir que Deus nos faça felizes e ao mesmo tempo não dar a mínima para a religião. Deus não pode nos dar uma paz e uma felicidade distintas dele mesmo, porque fora dele elas não se encontram. Tal coisa não existe.

   Essa é a chave da história humana. Despende-se uma energia incrível, erguem-se civilizações, concebem-se excelentes instituições, mas algo sempre dá errado. Uma falha fatal sempre permite que as pessoas mais egoístas e cruéis subam ao poder, trazendo a derrocada, a des­graça e a ruína. A máquina, em outras palavras, emper­ra, Ela parece engrenar bem e rodar por alguns metros, mas então se quebra. Tentamos fazê-la funcionar com o combustível errado. E isso que Satanás fez para nós, seres humanos.

   E o que Deus fez? Em primeiro lugar, nos deu uma consciência, o sentido do certo e do errado. Ao longo da história, certas pessoas tentaram obedecê-la (algumas, com muito esforço); nenhuma delas conseguiu obede­cê-la totalmente. Em segundo lugar, enviou à raça hu­mana o que chamo de "sonhos bons": as histórias extraor­dinárias espalhadas por todas as religiões pagãs sobre um deus que morre e ressuscita e que, por sua morte, dá nova vida ao homem. Em terceiro lugar, Ele escolheu um certo povo e, por séculos a fio, martelou na cabeça desse povo que tipo de Deus ele era, que não havia ou­tro fora dele e que ele exigia a boa conduta. Esse povo foi o povo judeu, e o Antigo Testamento nos dá a nar­rativa de como foi esse martelar.

   O verdadeiro choque vem depois. Entre os judeus surge, de repente, um homem que começa a falar como se ele próprio fosse Deus. Afirma categoricamente per­doar os pecados. Afirma existir desde sempre e diz que voltará para julgar o mundo no fim dos tempos. Deve­mos aqui esclarecer uma coisa: entre os panteístas, como os indianos, qualquer um pode dizer que é uma parte de Deus, ou é uno com Deus, e não há nada de muito es­tranho nisso. Esse homem, porém, sendo um judeu, não estava se referindo a esse tipo de divindade. Deus, na sua língua, significava um ser que está fora do mundo, que criou o mundo e é infinitamente diferente de tudo o que criou. Quando você entende esse fato, percebe que as coisas ditas por esse homem foram, simplesmente, as mais chocantes já pronunciadas por lábios humanos.

   Há um elemento do que ele afirmava que tende a passar despercebido, pois o ouvimos tantas vezes que já não percebemos o que ele de fato significa. Refiro-me ao perdão dos pecados. De todos os pecados. Ora, a me­nos que seja Deus quem o afirme, isso soa tão absurdo que chega a ser cômico. Compreendemos que um ho­mem perdoe as ofensas cometidas contra ele mesmo. Você pisa no meu pé, ou rouba meu dinheiro, e eu o per­dôo. O que diríamos, no entanto, de um homem que, sem ter sido pisado ou roubado, anunciasse o perdão dos pisões e dos roubos cometidos contra os outros? Pre­sunção asinina é a descrição mais gentil que podemos dar da sua conduta. Entretanto, foi isso o que Jesus fez. Anunciou ao povo que os pecados cometidos estavam perdoados, e fez isso sem consultar os que, sem dúvida alguma, haviam sido lesados por esses pecados. Sem hesitar, comportou-se como se fosse ele a parte interessada, como se fosse o principal ofendido. Isso só tem sentido se ele for realmente Deus, cujas leis são trans­gredidas e cujo amor é ferido a cada pecado cometido. Nos lábios de qualquer pessoa que não Deus, essas pa­lavras implicam algo que só posso chamar de uma im­becilidade e uma vaidade não superadas por nenhum outro personagem da história.
   No entanto (e isto é estranho e, ao mesmo tempo, significativo), nem mesmo seus inimigos, quando lêem os evangelhos, costumam ter essa impressão de imbeci­lidade ou vaidade. Quanto menos os leitores sem pre­conceitos. Cristo afirma ser "humilde e manso", e acre­ditamos nele, sem nos dar conta de que, se ele fosse so­mente um homem, a humildade e a mansidão seriam as últimas qualidades que poderíamos atribuir a alguns de seus ditos.

   Estou tentando impedir que alguém repita a rema­tada tolice dita por muitos a seu respeito: "Estou dispos­to a aceitar Jesus como um grande mestre da moral, mas não aceito a sua afirmação de ser Deus." Essa é a úni­ca coisa que não devemos dizer. Um homem que fosse somente um homem e dissesse as coisas que Jesus dis­se não seria um grande mestre da moral. Seria um lu­nático - no mesmo grau de alguém que pretendesse ser um ovo cozido — ou então o diabo em pessoa. Faça a sua escolha. Ou esse homem era, e é, o Filho de Deus, ou não passa de um louco ou coisa pior. Você pode querer calá-lo por ser um louco, pode cuspir nele e matá-lo co­mo a um demônio; ou pode prosternar-se a seus pés e chamá-lo de Senhor e Deus. Mas que ninguém venha, com paternal condescendência, dizer que ele não pas­sava de um grande mestre humano. Ele não nos deixou essa opção, e não quis deixá-la.


 Cristianismo Puro e Simples - C. S. Lewis



terça-feira, 28 de julho de 2015

RESOLVENDO O PARADOXO DEUS E A PEDRA



Se Deus é onipotente(pode fazer todas as coisas), Ele então pode criar uma pedra tão pesada que não possa levantar?
    Essa parece ser um questionamento comum e também bastante periódico(surge de tempos em tempos), principalmente por quem gosta de ficar reinventando a roda. Quando vejo esse argumento sendo usado me lembro do episódio do Chaves, onde o que Kiko queria ganhar uma bola quadrada do Professor Girafales. Mas enfim, em outros momentos já postei esse texto na página Apologética Cristã, mas estou colocando no blog agora. Pois bem, vamos esclarecer sobre esse assunto.
    Esse paradoxo foi elaborado para tentar justificar que Deus(de uma maneira geral) não é de fato onipotente. Segue então o paradoxo Deus e a Pedra:
Ou Deus consegue ou não consegue criar a pedra que não é possível erguer.
Se Deus consegue criar a pedra, não é omnipotente (já que não a consegue erguer).
Se Deus não consegue criar a pedra não é omnipotente (pois não a consegue criar).
Logo Deus não é omnipotente.
    Esse argumento se torna falho, quando observado que ele não reflete o verdadeiro conceito de onipotência, pois entendemos que a onipotência de Deus não é necessariamente poder fazer tudo, mas sim poder fazer tudo que seja intrinsecamente possível e aqui está a diferença. Há algumas coisas que Deus mesmo não pode fazer. Por exemplo, ele não pode fazer nada que esteja em contradição com a sua natureza, como por exemplo cessar de ser Deus, ou deixar de ser santo, ou fazer algo que seja logicamente impossível (como fazer um círculo quadrado). Deus não pode fazer uma pedra tão grande que ele não consiga levantá-la, pois o que é criado não pode ser maior do que o Criador. Entretanto, Deus pode fazer qualquer coisa que seja possível fazer. Ele é todo-poderoso (onipotente), o "El Shadai" (cf.Jó 5:17; 6:14; 42:2). A sua onipotência significa poder para fazer tudo que é intrinsecamente possível, e não para fazer o que é intrinsecamente impossível. É possível atribuir-lhe milagres, mas não tolices. Isto não é um limite ao seu poder. Se disser: "Deus pode dar a uma criatura o livre-arbítrio e, ao mesmo tempo, negar-lhe o livre-arbítrio" não conseguiu dizer nada sobre Deus: combinações de palavras sem sentido não adquirem repentinamente sentido simplesmente porque acrescentamos a elas como prefixo dois outros termos: "Deus pode". Permanece verdadeiro que todas as coisas são possíveis com Deus: as impossibilidades intrínsecas não são coisas mas insignificâncias (praticamente não existem). Não é possível nem a Deus nem à mais fraca de suas criaturas executar duas alternativas que se excluem mutuamente; não porque o seu poder encontre um obstáculo, mas porque a tolice continua sendo tolice mesmo quando é falada sobre Deus.

Obs:  Boa parte desse texto é apenas um recorte dos livros que estão na referência abaixo, ou seja, praticamente não elaborei nada, mas apenas organizei as citações.

Referências

Paradoxo Deus e a Pedra

Manual popular de Dúvidas Enigmas e Contradições da Bíblia - Norman Geisler

O Problema do Sofrimento - C.S.Lewis

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Não julgueis! O versículo favorito dos "fãs"

      Jesus deixou um ensinamento de que eu não deveria julgar para que eu mesmo não fosse julgado(Mt 7:1). Mas será que foi isso que ele realmente desejou ensinar? Julgar é pecado ou na certa medida não há problema? É disso que desejo tratar hoje.
    Sempre que surge uma polêmica no meio cristão que envolva uma “celebridade gospel” é comum citar esse versículo que não podemos julgar, como foi no caso recente envolvendo o cantor Thalles Roberto (Obs.: quero deixar bem claro que não pretendo dizer que se a atitude dele foi certa ou não, mas apenas estou usando com exemplo) e suas declarações e na tentativa de alguns justificarem suas declarações emitiram suas opiniões de que cristãos verdadeiros não julgavam e que deveríamos apenas orar por ele. Então vamos lá, cristão de verdade não pode julgar?
   
Mateus 7:1,2 - Não julgueis, para que não sejais julgados.
Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós.

A pergunta certa que devemos fazer sobre esse texto é: qual tipo de julgamente que Cristo está se referindo? Em primeiro momento é preciso saber que Cristo está condenando o julgamento precipitado, ou seja, o julgamento hipocrita, pois sendo assim o que podemos dizer sobre esses textos abaixo que incentivam o julgamento?


João 7:24 - Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça.

1 Coríntios 10 - 15. Falo como a entendidos; julgai vós mesmos o que digo.

Segundo o comentário bíblico de Russel Champlin temos:

“Não julgueis». Essas palavras nào aludem a toda modalidade de julgamento (ver o Mt. 7:20; I Cor. 5:12), mas ao julgamento censurador, injusto, que não pode ser justificado . A maioria dos Pais assim nos informa. Provavelmente Jesus se referiu às atitudes e ações dos fariseus, que censuravam aos outros em tudo, sem jamais reconhecerem a presença de qualquer defeito neles mesmos. Essa era a atitude típica deles. Paulo ilustra esse ensino no segundo capitulo de Romanos: «Portanto és indesculpável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas; porque no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas· ( 2 : 1 ). Os versiculos de Romanos 17 até 29 aludem diretamente ao judeu como indivíduo que julga ao gentio mas que em realidade, fazia as mesmas coisas que este”.

Portanto, o cristão pode sim julgar, mas desde que não seja um julgamento hipocrita, um julgamento pela aparência, mas segundo a reta justiça e para nós cristãos a reta justiçã é a Bíblia.

Referências:


Comentário Bíblico - Mattew Henry

Comentário Bíblico - Russel Norman Champlin

terça-feira, 14 de julho de 2015

APOLOGÉTICA E ESPIRITUALIDADE



Esse é um tema muito pertinente para nos cristãos que pretendemos fazer apologética. Na página da apologética cristã ou meu perfil as vezes é comum algumas pessoas entrarem em contato pedindo ajuda sobre como responder algumas perguntas feitas por um cético, ou por um certo amigo que questionou algo que não soube responder e para evangelizar necessitava daquela resposta.
É bom que nos cristãos nos empenhemos em estar aptos para responder toda e qualquer pergunta a cerca da nossa fé (I Pedro 3:15), porém observo que muitas pessoas que estão confusas a cerca de sua fé que necessitam da apologética para sustentarem sua fé em Cristo, como se não conseguisse responder ou entender algum questionamento, isso seria pretexto para abandonar sua fé. Creio não estar certo isso, pois entendo a importância da apologética na vida de um cristão, entretanto não podemos basear toda nossa fé(espiritualidade) na nossa capacidade de responder perguntas difíceis, lembrando que Santo Agostinho ensinou que se conseguimos compreender a Deus, então esse Deus é falso.
E desejando tratar desse tema, gostaria de abordar sobre a espiritualidade que está por trás da apologética e que toda apologética sem comunhão com Deus é falsa e enganadora.
Primeiramente precisamos dizer se apologética é bíblica.
Sim, apologética é bíblica e pode ser exercida como um ministério, ainda que aparentemente muitos não gostam muito da ideia de se debater a cerca da fé cristã, porém foi algo muito aplicado por Paulo em ministério.
É observado que Paulo debatia com os judeus/fariseus, gregos/epicureus, a cerca do cristianismo e a vida e ressurreição de Jesus Cristo.
Racionalizar a cerca da fé cristã é necessário e dizer que a fé cristã é cega ou dizer que apologética não é bíblica é um erro teológico, pois o ministério apologético foi muito desenvolvido pelos discípulos de Jesus, Pais da Igreja e atualmente.
É possível notar em Paulo e Pedro uma motivação clara de racionalizar a cerca da fé cristã, no objetivo de discutir a cerca da fé cristã.
Vemos que Lucas, escritor de dois livros (Lucas e Atos dos Apostolos), deixa claro a sua motivação ao escrever para que Teofilo tivesse certeza das coisas ensinadas [Lucas 1.1-4].
Muitos cristãos hoje não são favoráveis a discussão, pois muitos vão dizer que quem convence é o próprio Espírito Santo de Deus. Concordo com isso, porém creio que exista ferramentas/meios que Deus possa usar para existir esse convencimento, como podemos ver no ministério de Paulo que desenvolveu um ministério apologético em Tessalônica [Atos 17.2], Atenas [Atos 17.17], Corinto [Atos 18.4], e em Éfeso na base da discussão.
Outros gostam de dizer que ninguém jamais se converteu por argumentos racionais. Não concordo, pois o ministério de Paulo revela que sim, muitos foram convencidos através das discussões com Paulo e que Deus operava milagres extraordinários [Atos 19.8]. E o que dizer de nomes como Agostinho de Hipona e C.S.Lewis. Creio que fé também é pensar, e nas palavras de John Stott. “Fé não é credulidade. Ser crédulo é ser ingênuo, completamente desprovido de qualquer crítica, sem discernimento, até mesmo irracional, no que crê”.
Entretanto, aonde está o problema na apologética ? Como dito acima, observei que muitos fizeram da apologética um sustento para sua fé, ao ponto de se sentirem intimidades ou até mesmo “fracos” por não conseguirem responder alguma pergunta.
Nas vezes que fui procurado para orientar alguém como responder uma pergunta para um amigo, minha resposta é sempre a mesma. “Não há maior resposta/argumento do que seu testemunho de vida”. A apologética pode nos ajudar em um evangelismo, porém não podemos esquecer que apologética sem vida com Deus é apenas palavras de intelecto humano. Siga a orientação de Pedro para estar preparado para responder qualquer pergunta com amor e mansidão sobre sua fé, mas não deixe de buscar a Deus em primeiro lugar. Para Origenes somente era um bom interprete da Bíblia quem tinha uma vida dedicada a Deus. Para os pais da Reforma Protestante, a forma de ver a gloria de Deus é através das Escrituras, por isso a importância de orar, ensinavam que deviasse orar pedindo ao Espírito Santo que abrisse seu entendimento para que consiga ler e interpretar as Escrituras e podendo assim contemplar a gloria de Deus nas escrituras.
Portanto, quer desenvolver uma apologética com excelência? Cresça na Graça(fé) e Conhecimento de Deus. “Esforçai-vos para conhecer mais clara e plenamente a Cristo; conhecê-lo para ser mais como Ele e amá-lo mais. Este é o conhecimento de Cristo”.


Referências:

Redescobrindo os pais da Igreja – Michael A G Haykin

Ensaios Apologeticos - Francis Beckwith, William L. Craig e J. P. Moreland

Comentário Bíblico – Matthew Henry




Em breve abordaremos mais sobre esse tema.

terça-feira, 7 de julho de 2015

A letra mata? 2 Co 3:6 fundamenta a rejeição aos estudos teológicos?

   Todo aquele que se dedica em conhecer mais da palavra de Deus acaba sofrendo vários preconceitos por parte de outros cristãos, principalmente quando se aprofunda no conhecimento teológico. O jargão mais utilizado no meio protestante é "A letra mata", fazendo referência ao texto de Paulo que está em 2 Coríntios 3:6:
 "O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica."
   Alguns "pastores" usam esse versículo fora de contexto para alegar que o estudo teológico não é algo cristão. Pelo fato de haverem pessoas que ingressam em cursos de teologia e acabam migrando para a teologia liberal ou para o completo ceticismo, muitos "pastores" tentam acabar com essa iniciativa de alguns cristãos conhecerem mais da palavra de Deus. Enfim, será que "a letra mata" fundamenta a rejeição aos estudos teológicos?
  A letra mata a que Paulo se refere não pode ser identificada como sendo o estudo (conhecimento) teológico. Até porque, o apóstolo, que era um dos doutores da igreja (Atos 13:1), jamais poderia pensar dessa forma. Acredito que aqui são dispensáveis quaisquer comentários sobre a erudição e a aplicação de Paulo aos estudos. Isso é uma prova cabal dos benefícios da educação teológica.
Em verdade, o apóstolo no texto está falando da superioridade da nova aliança sobre a antiga. A morte causada pela letra realmente é espiritual, porém é bom salientar que se trata de uma alusão ao código escrito da lei mosaica. A lei mata porque demanda obediência irrestrita, mas não proporciona poder para isso.
É representada pelas tábuas de pedra (2 Co 3:3). Por outro lado, o espírito vivifica porque escreve a lei de Deus em nossos corações, trazendo-nos a vida em medida muito maior do que realizava sob a antiga aliança. É representado pelas tábuas da carne (2 Co 3:3). Portanto, como podemos ver, o texto comentado não fundamenta em qualquer instância a rejeição aos estudos teológicos.


Pedro Lima é Acadêmico do curso de Licenciatura em Matemática pela Universidade Federal do Amazonas(UFAM).
Postagens mais antigas → Página inicial